A Garganta da Serpente

Joana Prado

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Certeza

Por que essa inquietude?
não é o passar das horas
nem o nublado dia
que me fazem assim, tão arisca.
não são as tarefas
nem as idas e vindas
nem as ilusões meras
a distorcerem a cor das horas no meu tempo,
mas os olhares que não sofro,
as palavras caladas na minha garganta
o não que nego
e o sim que oculto
o cio a que me recuso,
essa ansiedade escusa
recoberta de neve pela inércia imposta.
Isso sim, me deixa sobre os olhos
esta névoa fina
que acinzenta o dia,
este silêncio inquietante
que me perturba o sono.
Ah, quantas vezes me apanho
Resgatando do tempo
Envelhecidos prazeres,
Revestidos de palavras belas
Que releio, diariamente, no meu
Amarelado vocabulário
de alimentar vaidade
e juventude!
Quantas vezes percorro meu
Corpo com toques trêmulos
E descabidos, como se violassem
Um santuário que agora se prepara apenas
Para receber a morte!
De quantos medos se pontua
Hoje o meu universo
E de quantas incertezas são
Cercados os meus planos mais fúteis
E imediatos!
Olhar, para trás! Quão tortuoso
Tornou-se esse gesto, no seu sentido
Dilatado e infindo!
E quão doloroso é mirar este espelho
Impiedoso, que nada entende de
Viver para sempre. Ele não pertence aos contos de fadas
Assim como eu!

(Set/2006)


(Joana Prado)


voltar última atualização: 01/08/2007
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