A Garganta da Serpente

João Cony

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Alma? Que alma?

Tu entendes tua alma?
O que fazes calado num canto do mundo, observando o movimento estrapolado ao teu redor?
Por que não abrevias esse caos sem membros que mesmo assim te envolve de fora para dentro?
De fora para dentro, qual foi o último instante que nada te tocou intrinsecamente ao ponto de inexistir mesmo fustigado pela insistente tentativa de troca de outrem para contigo?
Com que astúcia foste ao âmago da tua miséria, contradizendo-te no tufão que te encontras, sem a percepção e a compreensão dos teus bombásticos templos silenciosos e reverteste uma situação vil?
De teu sorriso amarelado, podes já, no reflexo de teu corpo te declarar livre ao acordar para sentir o sabor de não precisar te explicar para viveres intensamente?
Num vasto e óbvio clarão à tua frente, pudeste enxergar ou foste ofuscado por tua própria ciência?
Sempre dividido - sem saber dividir - aprumou-te num rumo inimaginável que te deixaria por inteiro tocar outra ou, até mesmo, tua alma?
Quando, mesmo tendo a resposta em tua carne, tiveste coragem de sugar o sumo de teu próprio e de outros corações?
Quando dominaste - mesmo na derrota - aquilo que é proibido, inquestionável e indizível?
Por que essa fera mórbida na jaula que se abriu, ao cair da noite, bem quando acordavas?
Entendes já tua alma?


(João Cony)


voltar última atualização: 17/07/2009
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