A Garganta da Serpente

João Cony

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No colo dos dias

Eu me importaria, sim, de rastejar até teu corpo
para proteger meu desejo na tua umidade e no cinismo da tua educação.
Embora meu corpo remoa o abandono com o auto-prazer da memória
e com os capítulos do teu cheiro convidativo ao tempo prostrado que,
da lembrança, a luz efêmera ressurge,
minha alma esquece facilmente o beijo na tua flor utópica.
Um exame diário no espelho encarado com fé.
Feridas secas.
Cascas voltando.
Notívago no tempo inventado pelo homem que, ao tempo, se submete.
Cansado de morte não morrida.
Farto da vida pregressa poluída.
Pseudo-temporais que sufocam o ar daquele que clama
pelo tormento das formas de um paraíso longínquo em choque.
Espera milagrosa pelo ceticismo a confortar.
Obras arruinadas na construção não obrada.
Construções acordando preguiçosos que tiram pedras dos sapatos.
Pernas voluntariosas engatinhando para um ponto de partida empírico.
Saudosismo no pedestal: aquela época com o que não sabia.
Diários de todo amanhecer: quem sou eu sem ontem?


(João Cony)


voltar última atualização: 17/07/2009
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