Motel
Com medo das palavras em sua mente, descortinou a penumbra e pichou de tinta
azul seu templo.
Buscou sentido em cada penetração do bombardeio que seu coração
procurava atingir na alma rasa.
Tocou o corpo de uma mulher louca e apaixonada que pedia socorro no vento entre
as pernas que sugava seu gemido.
Resfriou o orgasmo doente antes dos insultos que quase o fizeram fugir.
Bravamente sustentou a noite alcoólica em abstinência e até
que a chantagem emocional do dia, atravessado em pesadelos alheios, desistisse
de seu egoísmo, ele não passaria de uma presa.
"Nada como os ciúmes, a violência, o desprezo e o confronto
para afligir a solidão implacável,
Nada como um orgasmo fingido,
Nada como a porra escorrendo dos lábios de pedra que tornaram-se carne
outra vez,
Nada como o abandono sem culpa e a atitude voltada para o amor-próprio",
pensava o ingrato.
Nos dias de rotina ele esteve no meio de tantas e sua preocupação,
da mesma forma que veio, foi, para depois voltar.
Não chorou.
Não sorriu.
Nenhum labirinto.
Nenhuma paixão.
A alma a pairar.
O corpo vago.
Um efêmero conforto, sabia, como sabia da obviedade do seu transitar.
(João Cony)
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