A Garganta da Serpente

João Júlio

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Lá no fundo eu sem nome

Eu queria espanto do belo
A alvorada de um novo dia.
O perfume de uma bela donzela.
O nascer de uma nova criança.
O vomito recém largado.
O sangue há pouco jorrado.
A bomba que cai na floresta.
A esperança que renasce a cada dia.
Todos os sonhos de todos os dias.
Todas as mortes e todas as vidas.
Tudo junto numa coisa só.
E eu aqui sem nome.
No escuro.

Eu queria ser o câncer que cresce.
O beijo dado ou roubado...tanto faz.
O menino que perde o dente
e a menina que ama seu pai.
Eu queria ser grande pra poder ver os pequenos
E ser pequeno pra sonhar em ser grande.
Eu queria não ser faminto
E nem glutão.
Ser todos e não ser nenhum...
E quem dera ser são.

Mas eu não sou nada disso...não, não ,não.
Eu sou eu. Tenho nome
Vontade
Família.
Amizades.
Saudades.
Dor.
Humanidade.
Sexualidade.
Necessidade.
Carência.
Ego
Alter-ego
Casa.
Roupa.
Dignidade.
Virtude.
E todas as outras coisas que quase todo mundo tem.
Só não tenho o que eu queria ser.
E isso eu nem sei.


(João Júlio)


voltar última atualização: 19/01/2009
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