Duas Pontes
Consegui recuperar o que restou da minha estrutura.
Recolhi cada parte como pude
Cacos e areia numa mão e outra.
Nos pulmões a poeira que subiu da queda.
Agora procuro algo que se esconde.
Procuro dentro de mim algo que não se arranca.
É preciso alguém para colocar as mãos na minha boca
E abrir as duas partes além do fim.
Para que, fazendo força para morder,
Eu consiga fazer força para viver.
A saliva descerá pelo canto;
Lágrimas surgirão de cima
Misturadas com suor e sangue.
Aguardarei que minha alma também apareça
Nesta agonia entre a vida e a morte
Para que me mostre o que procuro.
E ela surgirá dizendo:
É preciso... É preciso... É preciso.
E, no final, será isto que verei:
É preciso... É preciso... É preciso.
Eu espero.
(Joaquim Baslo)
|