Auto-retrato
Quando crescer, quero ser prosa...
uma prosa poética.
Se for difícil,
serve uma poesia prosaica.
Gosto de barulho de água,
não gosto de pessoas bipolares.
Detesto laranjado e acho que não ficaria bem sem cabelos...
Por isso não sou budista.
Leio revistas de ponta a ponta,
uso até marcador de livro e
nem o corpo editorial passa despercebido.
Não consigo largar um livro no meio.
Falando neles, já comprei pela capa,
já dei de presente e me arrependi.
Queria um perfume com cheiro de livro novo.
Não sou católica.
Sou covarde, segundo Dawkins.
Tenho déjà vus e não sei explicá-los.
Temo o que não entendo.
Não concordo com Drummond às vezes,
mas sempre me delicio lendo-o.
Rubem Fonseca mexe com meus instintos,
por sorte meu inconsciente sabe guardar segredos.
Prefiro dias nublados a ensolarados.
Não gosto de elevadores.
Não uso tênis nem jeans.
Não sei se me namoraria.
Angustio-me com pouca coisa
e choro por menos ainda.
Tenho o pensamento fragmentado...
minha lógica nem sempre é muito lógica.
Não tolero que me subestimem
e tenho medo do contrário.
Tenho medo de muitas coisas,
mas poucas me paralisam.
Tenho um diário não diário,
não gosto de obrigações...
nem de rimas e formas fixas.
Sempre uso agendas até os três primeiros meses do ano,
depois as abandono numa gaveta qualquer.
E não tenho paciência de Jó.
O meu acento é circunflexo.
Tenho dúvidas, muitas dúvidas
E nenhuma certeza.
Mas quem precisa delas?
(Jô Oliveira)
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