A Garganta da Serpente

Jorge Junior

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LEMBRANÇAS

O nirvana que não chegou a tempo.
A solidão que nunca tarda.
Desperdício de amizade com porcos nojentos.
Orações lançadas a deus-esmo.
A placa dizendo: 'SILÊNCIO'.
Como manter em silêncio uma alma em turbulência?
O relógio toca meia-noite,
uma eternidade até o próximo minuto.
Há algo queimando no forno!
Será as minhas paixões?
Uma galinha suicida?
As promessas dos meus amores?
Já não importa, pois já não tenho fome.
As ruas estão cheias hoje,
cheias de almas vazias.
Gatos cegos, ratos podres, cachorros sem dono.
Luzes queimadas, dificultam o meu caminho.
Sigo apalpando paredes tortas.
Caminhando chego ao rio,
o mesmo rio, que envolto em beijos eu admirava.
Essas águas já não têm sentido.
Do outro lado do rio, luzes se acendem e se apagam.
Pessoas se amam,
pessoas se matam.
O jornal continua circulando, em veias entupidas.
Lembranças que nunca morrem, invadem a minha mente.
Não longe obscura, uma lua me fita com receios.
Nenhum sinal de vida me aborda no caminho,
para pedir um cigarro.
Dividir todas as lágrimas.
Já não sou eu quem chora parado aqui.
É todo um passado, reanimado com doses de anfetaminas.
Essas árvores mas parecem cogumelos.
Essas cercas são como teias-de-aranha.
Já me sinto um inseto.
Tento voltar voando para casa.
Minhas roupas são pesadas,
e já não tenho forças.
Continuo mesmo que me rastejando.
Ao longe vejo a luz no fim do túnel,
com quatro rodas, sem direção, alcolizada.
Agora sem esforcos, já consigo voar,
e ver o futuro de tudo o que nunca existiu.


(Jorge Junior)


voltar última atualização: 15/04/2000
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