ADEUS
Doem-me agora
os beijos com que outrora
me prendias.
Subitamente, afloram-me a pele
transformados em chagas,
absurdos pela tua ausência,
translúcidos na memória da minha demência.
Relembro que os teus lábios apertavam os meus
bocas coladas, versos-reversos,
a minha e a tua língua, extasiadas
em movimentos preversos.
As tuas mãos envolviam-me o pescoço
escorregavam-me nas costas, pelo dorso
fincando-se e alheias a tudo o mais
conduziam o meu barco à entrada do teu cais.
Desfraldada, a bandeira sobe ao mastro.
Acosto...
Que sensação estranha! Nem sei se gosto.
Suponho ainda sentir as tuas pernas que amoleciam
e flectindo me arrastavam para o chão
embora eu levitasse já nos céus.
Entreabrindo-as feneciam
no deslizar da minha mão
esta que hoje te acena, meu amor, e diz adeus.
Adeus!
(Jorge Alarcão Potier)
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