Alegoria
Eu que tangia na primeira idade
A avena tão suave e tão sonora,
Cantando agora o Amor que o peito invade,
Agora a pena que no peito mora,
Quero que pelo mundo se traslade
Nova matéria não cantada outrora
E aos espaços etéreos se levante
Alto clangor de tuba retumbante.
Calem-se os meus suspiros saudosos,
Os meus brandos gemidos magoados,
As minhas esperanças e meus gozos,
As minhas ilusões e meus cuidados;
Que em lugar de queixumes amorosos
Espalho agora sons nunca escutados
E que seguir os passos determino
Do grande Vate Grego e do Latino.
Ó Musa de Camões, tu que venceste
O difícil caminho árduo e penoso,
De novo o teu poder se manifeste,
Pois sem auxílio a voz erguer não ouso;
Dá-me a imortal inspiração celeste
E o verso mais sublime e sonoroso,
Para que este meu canto se acrescente
Aos dessa tua cítara eminente.
(José Albano)
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