A Garganta da Serpente

José Albano

José de Abreu Albano
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Ode à Língua Portuguesa

Língua minha, se agora a voz levanto
Pedindo à Musa que me inspire e ajude,
Somente soe em teu louvor o canto,
Inda que a lira seja fraca e rude;
E tudo quanto sinto na alma, e digo,
Já que na alma não cabe,
Contigo viva e acabe - só contigo.

Língua minha dulcíssona e canora,
Em que mel com aroma se mistura,
Agora leda, lastimosa agora,
Mas não isenta nunca de brandura;
Língua em que o afeto santo influi e ensina
E derrama e prepara
A música mais rara - e mais divina.

Língua na qual eu suspirei primeiro,
Confessando que amava, às auras mansas
E agora choro, à sombra do salgueiro,
Os meus passados sonhos e esperanças;
Na qual me fez ditoso em tempo breve
Aquela doce fala
Que outra nenhuma iguala - nem descreve.

Língua em que o meu amor falou d'amores,
Em que d'amores sempre andei cantando,
Em que modulo os mais encantadores
E deleitosos sons de quando em quando
E espalho acentos inda nunca ouvidos
De mágoas e de gozos,
Queixumes amorosos - e gemidos.


(José Albano)


voltar última atualização: 25/08/2005
7865 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente