A Garganta da Serpente

José António Gonçalves

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A PALAVRA É UMA BORBOLETA

A palavra pode voar
espairecer por aí como uma ave
solta e branca
desprendida de sóis
e ninguém dar por ela
no silêncio das sombras
da manhã

A palavra se não bate asas
oculta-se nos tectos
mais antigos das casas
e sopra imagens imperceptíveis
num rosário de recordações
que se esfuma nas tardes
em sons inaudíveis

Se a palavra quisesse
serenava-se
no coração dos homens
e petrificava-os para os atormentar
em sonhos permanentemente iguais
marcando-lhes a memória
com os sinais
dos dias desencontrados
e sempre na penumbra
da noite seguinte

A verdade é que a silhueta da palavra
assusta a cidade
mesmo quando apenas visita os telhados
para lhes abençoar o sono

A palavra é como uma borboleta
esplendorosa
esquece que já foi larva
embora hoje se aparente
com uma rosa


(José António Gonçalves)


voltar última atualização: 16/06/2004
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