A Garganta da Serpente

José Gil

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eis o meu pássaro que fala

eis o meu pássaro que fala
à rama húmida do teu cabelo
gosto de passar o pêssego
de uma mão para a outra
como os teus seios em leves
sinais e segurar a ameixa entre
os lábios, os caroços de ameixas
mordendo os dentes e recolhendo
á água da nascente.

quero-te como a pedra de Fléton
para quem persiste no amor
profundo.

As gaivotas já alinham
na tela da moldura da mesa
encostada ao mar do teu coração
esvoaçante.
os pincéis descansam nas suas
penas e as cores ternas do fogo
beatificam no aroma
de hortelã ,o poema

sinto a quente brisa do sul
gosto do chilrear dos pássaros junto
à porta onde te espero
as cerejas já em calda alegram
o que é vivo e luminoso
a alva traz na boca a saudade
das maçãs do teu rosto
angular o teu corpo é redondo
a franja da tua montanha arável
a saia curta, andas e escrevo
sem olhar.

venho de bater à tua porta
ao maior abraço de uma folha
seca até ao berço do nascimento
os meus dias turbulentos inquietam-te
nas açucenas da tranquilidade
sereno passeio nas falésias como
a noite regressa .

os teus olhos têm silêncio, os braços não
das nuvens do meio têm mil águas
em baixo vou contemplando
o meu gosto pelo fruto dos cerais
alegremente confiando no luar
e no seu perfume de flor de manga
Íris desperta em mim as rosas da carne
Vermelhas como as papoilas,
amo nelas o vapor da água
inunda-me os braços e o rosto
humedece as pernas lentamente
do dia do trabalho mais feliz
a iluminação anuncia a espessura
da sílaba inicial na musica extrema.

ouvi as canas submetendo-se ao vento
a tarde fica tão gentil e elegante no teu vale

algures quero ainda viajar
quando os teus mamilos ganham a forma
das rolas de chocolate e gelo frágil
que me arrepia como quem regressa à
terra para comer as raízes

Praias do Sado 15 de Julho 2005


(José Gil)


voltar última atualização: 05/08/2005
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