SÓ PENSO EM HAIKAIS
Na quase manhã
há algazarra de pássaros
em revoadas
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A rosa acorda
bebe o sereno da noite
se abre úmida
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cada olhar é único
a vida não se repete
o olhar a completa
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A gota de água
no fio de arame hesita
baila na luz
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A arte de morrer
a gota d' água sabe
vive sem apegos
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A chuva canta
na vidraça da janela
com lágrimas nos olhos
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Por um instante
acaricia meus cabelos
uma brisa morna
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Senti saudades
Por toda a minha vida
de quê nem sei
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Apenas o vento
diz que vi outros mares
ele sempre mente
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Sou pássaro
migratório de regresso
ao ninho antigo
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Bem no fundo
da gaveta das coisas velhas
o gosto de teus beijos
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Lábios róseos
minha canção de espera
com teu perfume
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O tempo derrama
na luz do crepúsculo
muitos olhares
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Vento minuano
varre o frio da tarde
ao sol poente
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Um vaga-lume
acende seu lume na noite
e faz poesia
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Será que a lua
incendeia os amantes
na madrugada?
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As flores abrem
à espera de abelhas
que as fecundem
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Sobre a idade
mentiu mentiste menti
sempre mentimos
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Aquela senhora
nunca passa dos quarenta anos
eternizou-se
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O meu abrigo
é uma canção de ninar
que a mãe cantou
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na beira d'água
os juncos balançam
com teu olhar
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Habita em mim
um sonho antigo
de virar nuvem
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A poeira do tempo
carregou a luz de teu olhar
ficou eco de passos
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Desate o vôo
o tempo não se demora
em dias passados
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persigo teu olhar
como as trevas perseguem a luz
com sofreguidão
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lugar perdido
nem mesmo em sonhos
podes visitar
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O chamego das aves
tece casas com gravetos
música dos ninhos
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Por que o vento
não varre para longe
as minhas tristezas?
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Onde andará
o menino cheio de sonhos
acaso morreu?
(José Luongo da Silveira)
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