COMO UM ASCETA SEM NOME NEM NAÇÃO
Todas a mística do Universo, eu sei, conspira contra mim
À cornucópia do Acaso e das circunstâncias
Onde a Fortuna,
Puta safada, vagabunda devassa
Abre as pernas à casta dos superiores abençoados
De nada me adianta a oração dos livros sagrados, nem os cânticos
mágicos
Desenhar mandalas, entoar mantras, religar-me à energia, pura tolice
Obra de arte de invencionice
Não procuro mais a divindade do totem
Pois sei que o Deus do cosmos não me escolhe jamais
As portas do Nirvana estão com o sinal fechado para mim,
Um monge fracassado
Há perigo nos cantos do templo
Eles venceram e cumpriram as profecias
Do que estava escrito no tabernáculo
Não há perspectiva da Nova Era
Nossos deuses hoje são terroristas
Assustam-nos com fantasmas
Manifestações macabras e aterrorizantes
O mundo está cheio de heróis corruptos
E nós somos hoje os vilões torpes que eles combatem
Ninguém mais conhece os limites da maldade
A intolerância é uma Deusa Vagabunda
Os lótus apodrecem no canteiro do meio da avenida
Meditando no templo em ruínas
O vento tenta me derrubar com várias rajadas
Cortar-me com pingos de água laminada
O relâmpago afunda-se nas minhas pálpebras
Tenta quebrar a minha concentração
Eu continuo com fé
Mas a Voz que eu procuro se recusa a me dirigir a palavra
(José Marcelo Siviero)
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