A Garganta da Serpente

Josiane Maria Bosqueiro

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sNoturnos

I

Duas gigantescas pernas de calça jeans
esta avenida de mão dupla
meu de agora caminho.

Andando
vejo a luz dos postes da cpfl comporem
sobre a avenida-jeans
na noite-asfalto
rasgos

semelhantes aos da minha calça surrada.


II

Penso: seguir o caminho-jeans
encontrar seu fim no corpo da noite
deitar sobre o corpo
sentir a aspereza do corpo do asfalto
no fim solitário da noite-avenida.


III

Pelo caminho passa um carro escuro
e
a dúvida:
seria ele azul-marinho cor da noite minha ou preto?
Escura noite e escuro carro
concluo
porém coberto por florzinhas amarelas
estrelas cadentes dos ipês da avenida Roxo Moreira
sobre o teto

- estrelas num céu passageiro
em direção ao corpo da noite.


IV

Uns goles e me deito. Então
noite, uísque, chão.
Penso:
flores caíram sobre o teto apressado do carro
e com tanta vontade e pressa
as estrelas cadentes quiseram viajar de carona
apressadas que são, como o automóvel
as auto-florzinhas-móveis

que pintaram sem querer

borrões de uma Noite Estrelada
um quê de Van Gogh
ao pincel do velocímetro.


V

Abandono a tortuosidade
da vista embaçada
do borrão da emoção
doente
e da bebida

Levanto-me
e caminho

retamente.


VI

Sorvo o azul inquieto da noite
piso sobre a avenida deixando para
trás
decisões
(reta é a avenida
não eu) e
entre linha e oscilação
me decido pelo caminho
da emoção.


VII

Dirijo meus passos
solitariamente
- enquanto minhas pernas permitirem
e ainda sorrindo irei -
ao asfalto-mistério:

O corpo da noite.

(Jardim de Noites, 2006, ed. autor)


(Josiane Maria Bosqueiro)


voltar última atualização: 25/07/2006
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