A Garganta da Serpente
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Tatuagem

No início ela sentiu algo
entre a repulsa e o medo.
Sua obsessão começou
quando viu pela primeira vez
as tatuagens no peito dele.
Já lhe haviam dito que ele era perigoso
mas ela não conseguiu fugir
da atração exercida pelas
estranhas tatuagens.
Por vezes, enquanto ele dormia,
ela ficava obserando os desenhos
no corpo dele, tocando-os
com a ponta dos dedos.
Quase todo o corpo dele
estava coberto de tatuagens.
Na penumbra ela tinha a impressão
de que os desenhos se moviam.
De fato, ao observador atento
era possível notar que as tatuagens
sofriam modificações ao longo do tempo.
Todas as imagens retratavam mulheres,
mulheres lindas, provocantes.
Mulheres que já tive, dizia ele.
Havia emoção nos rostos tatuados,
mas ela não conseguia definir se a expressão
era de dor ou prazer.
Uma longa corrente tatuada
percorria o corpo dele, interligando
as várias imagens, ora envolvendo
um corpo, ora atando um pé
ou um pulso.
O tempo passava e ela se sentia
cada vez mais mais ligada
ao mistério das tatuagens.
O fascínio cresceu de tal modo
que um dia ela colocou-se diante dele
com olhos suplicantes e definitivos.
Ele apenas perguntou: você quer?
Ela cerrou os olhos e murmurou
algo incomprensível, talvez um sim.
Então ele acariciou-lhe o rosto
e envolveu-lhe o pescoço com as mãos.
As tatuagens se moveram rápido.
A corrente tatuada deslizou na pele
como uma serpente, correu pelos braços dele
e chegando às mãos entrou
na carne trêmula dela.
Ela apenas suspirou fundo
enquanto a corrente se tatuava em
todo seu corpo.
Lentamente, como uma agonia,
se formou no corpo dele
uma nova imagem indelével.
Lá estava ela, linda como nunca.


(K)


voltar última atualização: 08/03/2000
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