LISBOA
(Para Fernando Pessoa, eterno Mestre. Em memória.)
Aqui, por onde sangra o Tejo,
a melancolia é mesmo tanta,
e a nostalgia emerge tão concreta,
que nem o rebuliço ruidoso dos jovens,
nem o ânimo incontido dos artistas,
sequer a lucidez profana dos poetas,
alcançam entender-te, transformar-te.
Aqui, por onde floram as primaveras
e brotam alegóricos cravos rubros,
as pessoas revelam-se tão incrédulas
que parecem viver a esperar fantasmas.
Taciturnas almas penadas
Perpetuação dos tempos findos!
Prantos de pedras tragados pelo tempo.
Hoje... esculturas esculpidas no cais.
Aqui, por onde passam esquifes,
e as esperanças desvanecem,
eu, apenas eu, abraso-te, animo-te.
Posto que trago em mim
o espírito libertário das gaivotas.
E o coração a desatar-te amarras
e a purgar-te o inebriante banzo.
Poemas viscerais, guardados em garrafas,
submersos nas lágrimas salgadas do teu mar.
(Em primavera portuguesa. Sintra, 2007)
(Kátia Drummond)
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