ECLIPSE
Dou-te um trigal
e a relva úmida.
Para que tu possas
deitar-te o corpo
e deleitar-te a alma.
Como quem, em plumas,
repousa adormecido ao relento,
à espera de um sonho qualquer.
Dou-te rubros clarões matinais.
E de aves ruidosas, os tons.
Para que tu possas
despertar-te em brasas
e flamar radioso.
E entre brumas rubras
selar o corpo do tempo
e vagar à deriva.
Dou-te as amarras firmes
de naves errantes.
E de faróis, o lúmen.
Para que tu possas
retornar-te inteiro.
Como quem, em ecos,
ressoa nas montanhas
e desbrava planícies.
Dou-te a nascente
e as borbulhantes vagas.
Plagas do meu corpo.
Para que nele navegues
silencioso e anônimo.
Até morreres submerso
à margem do tempo.
Adormecido em solar eclipse.
(Salvador, Bahia, Brasil)
(Kátia Drummond)
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