A Garganta da Serpente

Lenin Bicudo Bárbara

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Repentina
Estava escrito no lençol que nos cobriu...
Redemoinho de idéias
Vão dizer...
Ela e a noite

Repentina

Percorro os seus contornos lentamente,
Sorvo o sabor das linhas do seu corpo,
Derramo ali meu beijo, os seus recolho
Da boca que você me precipita
De repente, desordenadamente.

Leio, uma por uma, e cada uma delas,
As palavras no seu silêncio absortas,
Que me provocam, que me desafiam
E me desvelam todos os desejos,
E me desarmam dos meus desesperos.

Se bem que não entendo o que elas dizem
Certamente me é claro o que elas querem,
Sigo a guia imprecisa das vontades,
E à vontade mergulho no mistério
Quase pleno da sua intimidade.

A luz que do abajur vazava, apago,
E acosso o que entre as sombras se insinua,
No claro-escuro dos lençóis lhe encontro,
E quero vê-la, lúcida e vivace,
Perdida ao mesmo tempo em que procura...

Que procura, no escuro em que se envolve,
Na treva embevecida de entre as pálpebras,
Pelos destinos mais desatinados,
Pelos desfechos os quais não se fecha,
Pela chave das portas sem ferrolho...

E que agora, e só quanto o agora dure,
Encontra as minhas mãos, a boca, os beijos,
As roupas que eu larguei no chão, olhares,
Poemas que eu lancei ao ar, sussurros
E pedidos, promessas e mentiras.

Percorro os seus contornos lentamente,
Absorvo cada espaço em sua pele,
Apalpo até sua respiração...
Mas sei que os vou perder sob os lençóis
De repente, misteriosamente...


(Lenin Bicudo Bárbara)


voltar última atualização: 21/10/2006
23579 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente