A Garganta da Serpente

Leo Sliwak

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UtopiaipotU

Eu queria poder ver as flores sem precisar olhá-las
e queria ter olhos para ver a primavera,
mas eu só enxergo, entre os canteiros, as valas
e chego à conclusão de que os sonhos são quimeras.

Eu gostaria que o céu e as estrelas fossem palpáveis,
e gostaria que as galáxias me fossem acessíveis,
entretanto só recorro ao firmamento em momentos lamentáveis
e me convenço que busco delírios impossíveis.

Eu adoraria cheirar as cores, degustar os perfumes e ouvir a luz,
e adoraria que para mim o mundo fosse amável,
no entanto os meus sentidos estão cobertos por um capuz
e concluo entristecido que a felicidade é inalcançável.

Eu me entorpeceria se respirasse a água e bebesse o ar,
e adormeceria com o canto de uma cigarra tardia.
todavia meus ouvidos não mais conseguem escutar
e então percebo que sou uma gigantesca utopia.

A água então vira vinho e o nó se desfaz,
as flores têm cor de perfume.
Todas aquelas quimeras ficaram para trás,
sinto-me agora com'um vaga-lume.

No meu bairro Azul Celeste moram as estrelas,
minha cidade é uma Galáxia e o meu país é o Universo,
onde as casas se assemelham a capelas
e a comunicação se faz em prosa e verso.

Que cheirinho delicioso de vermelho!
Hummm! Que sabor azedinho de patchouli!
A luz toca ao longe um som de evangelho.
Agora sim sou feliz. Por que estou aqui?

Sólido, líquido e gasoso, é tudo bobagem!
Azul, vermelha e amarela são todas iguais;
nariz, olhos e ouvidos estão na mesma passagem,
porque sou infinito, mas ao mesmo tempo lépido e fugaz.

Impossível é daqui a pouco,
Inalcançável é coisa de recessivo em heterozigoto,
Ainda que pensem que eu não passo de um louco,
Para mim e só para mim, utopiaipotu.


(Leo Sliwak)


voltar última atualização: 10/05/2007
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