Insônias Poéticas
Essa poesia que sobre mim se abateu,
trazendo cativo de volta p'ro corpo,
o espírito liberto que há pouco era eu.
Acorda poderosa o meu ser quase morto.
Minha matéria cansada, submissa se entrega.
O leito queima como se fosse um braseiro.
O coração disparado a mente carrega.
As palavras girando como um formigueiro.
O sono da noite já não cogito.
O silêncio é agora, um aliado bendito.
De testemunha, a cama inútil apenas
e então as idéias se alinham serenas.
A luz do dia, na janela começa a surgir.
O corpo em frangalhos, não consigo mover;
a alma alarmada, ameaça fugir
e a mente vazia, parece nada conter
Este processo exaustivo então chega ao seu fim,
a poesia ainda quente, insistente ainda olha pra mim,
quando o relógio desperta, sem nada saber
e eu levanto aos pedaços tentando me erguer.
A água no rosto quase me faz esquecer,
que há momentos atrás e apesar de sofrer,
a despeito do sono, do silêncio e da dor,
e seja de que forma for,
ainda que doa, que eu grite ou que gema,
as insônias poéticas me arrancam poemas.
(Leo Sliwak)
|