A Garganta da Serpente

Lílian Maial

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UMAMI

Vem de onde esse fel que amarga o poema,
que brinca de corroer os lábios
que profetizam teu nome?

Há um gosto que não tem sabor.

A textura da palavra engasga,
num escorregar de sumos,
e resiste à fome dos homens.

De inesperado,
um facho de luz sussurra ao ouvido,
no alumbramento das idéias,
como um rasgo de sorriso
que se apruma no canto da boca.

Percebo tua essência em meio à poesia.
Perfumas o rastro de morte
- das letras dos versos -
com grãos de setembro,
num brotar de escrita em chamas,
lambendo a tarde cálida e sem poentes.

Abre-se, mais uma vez, a ferida,
florada entre pequenos coágulos de sonho.
Voltam-se olhares frágeis,
como que a perceber a lenta agonia
dos que sucumbem à fome
e à falta de frases.

É no jazigo que se inventa o homem,
que se reconstrói o corpo do passado,
que se prova o aroma.

A morte não tem mistérios,
ocupa o que era mar,
o que era vento, sol e riso,
descarta o que era dor e lamento,
e renova os paladares de um velho poema:
esquecimento.


(Lílian Maial)


voltar última atualização: 19/01/2011
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