A Garganta da Serpente

Luciana Amâncio

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Apontamentos (II)

Desisti dos discursos longos,
dos argumentos todos
que se pretendem irrefutáveis;
das noites irresponsáveis também
- contraditoriamente.
E desisti de jogar o tempo fora,
de jogar "porrinha" na mesa dum bar...

Da ciência estéril,
da vã teologia,
dos risos facílimos,
das leituras densas,
do medo de morrer e,
ainda, da vontade do mesmo,
pois ficar é,
por hora,
um protesto silencioso,
uma vontade de rir incontrolável
- ou paixão contida?!?

Desisti de conter,
de contar,
de concluir.
E de protestar,
de adiar,
de resistir...

Quero sorver à Vida
como ao suco,
abraçar ao Mundo
como a teu corpo
com tudo o que sirva
ao gesto de estreitar objeto e desejo.

E quero, ainda, correr
ao mar como à poesia - com sede, calor, ânsia.
Fazer versos como quem se molha de chuva
antes do trabalho
(e perde a pompa toda, a elegância)...
Dispensar palavras na boca
que deseja traduzir-te a poesia
e sorrir
(precisamente como fazes)
ao perceber que entendestes
o recado, sem sombras
de dúvidas.


(Luciana Amâncio)


voltar última atualização: 21/07/2010
13320 visitas desde 01/07/2005

Poemas desta autora:

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente