afim de me abster da crudelíssima prisão
afim de me abster da crudelíssima prisão
do sono que o cotidiano e sua dentição
de ferro lodo caos e lama lama e chão
consome e some a fome e a inanição
detenho-me no solo solo e quedo em combustão
inerte como inertes os planetas em deriva
pulsante como pulsa cada aurora gradativa
que a noite se nos anoitece mais a escuridão
desperto e tenho os olhos úmidos de vida
estanques minhas chagas ávidas as mãos
palpito tateando o incólume desvão
do verso em que me empombalho pássaro-artesão
no escuro em cujo qual me banho e origino
astuto desde o nada mais alheio ao meu destino
(Macabeu Samsa)
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