A Garganta da Serpente

Maiara Gouveia

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Certa noite

I

A sombra das árvores espichando, esgueirando longo escuro,
os galhos retorcidos crescendo no chão
feito as garras de um grande monstro,
olhos de coruja em cada tronco espreitando
maciço silêncio.

Súbita
garoa fina, intermitente, irritante, em pequeninos golpes
açoitando o solo, e o vento assobia muito
feito um lobo uivando faminto, e há nuvens
de fumaça fria encobrindo a estrada.

II

Surgem , dilacerando a neblina,
dois seios pontudos cobertos de noite.
O espectro delata formas
de estranha delicadeza. Ouço os cabelos
desmanchando macios, o vento uiva e dança
ao redor da passante inesperada, a penumbra
denuncia brancura rosada, o corpo arredonda
a garoa espalhando cristais líquidos em cada contorno,
sinto escorrer o orvalho na gélida pele, a pele
feito a pétala de um sonho.


(Maiara Gouveia)


voltar última atualização: 30/10/2006
12559 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente