A Garganta da Serpente

Maísa *Pupila

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Moribundo

Descaso ao meu verso
Tanto abraço e nada causa?
Apenas o descanso do moribundo,
Que deita em amassada folha
Sonhando com filé de frango, cobertor e um teto.

Abraço o moribundo
No seu mundo traço um verso,
De pranto e injustiça;
Verso gritado, com nó na garganta
Declamo sem descanso o verso engasgado.

Descaso eu fiz
Ao sonhador moribundo,
Primeira estrofe egoísta
Versos não enchem barriga,
Mas denunciam a dor e o fracasso.

Dentro desse compasso
Salta aos olhos o moribundo,
Acorda e lê os meus versos,
Declama-o com sorrisos na boca,
Poucos versos de amor eterno.

Transeuntes passam,
Ouvem o moribundo e aplaudem,
Ele canta com emoção
Ganha uns trocados nas mãos,
Versos meus lhe deram o pão.

Hoje vive na pensão
Sempre com papel na mão,
Escreve versos e canção;
Já tem teto e cobertor
E come frango com feijão.

Virou cantador nas praças,
nas ruas e avenidas
Todos conhecem os versos
Do moribundo José
Que passa os dias com a poesia.

Meus versos abraçaram José
Que um dia na folha amassada dormia,
Sonhou palavras sem saber,
Acordou em sintonia
Leu meus versos e virou poesia.


(Maísa *Pupila)


voltar última atualização: 07/02/2006
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