Aflição Poética
Ando a procurar palavras,
Nos dicionários,
Nos muros da cidade,
Nas bocas desdentadas, não letradas.
Procuro, procuro...
E nada.
Quero signos pequenos,
Mas que ecoem imensos,
Harmônicos,
Onde bocas se possam inebriar
Com a leveza de quem canta uma canção viva.
Procuro... palavras... e nada.
Meu martírio?
Dar nome a este turbilhão que já amaldiçoa,
Traze-lo às glórias e aos infortúnios da vida.
Livrar-me dessa aflição poética,
Intensa dor de mil facas,
Angustia que dilacera,
Sufoca,
Inexorável, ignora minhas juras,
Minhas sofridas promessas
E da noite me escraviza.
Mas antes que a estrela rasgue os céus
Hei sim de te ofertar aos signos, ao códigos,
Ao mundo, às bocas, às críticas,
às paixões, aos dissabores, ao futuro
- não sem que eu sofra
Poesia malcriada,
Tu há de ter o teu momento,
E me levará contigo ao gozo paraíso.
(Manoel (Du))
|