MENINO-BAMBU
Ele me contava histórias
Num tempo de eu moço
Tinha sonhos vazantes
E os olhos metidos no sol
Suas palavras cheiravam
Resina fresca das manhãs
E seu contar-cantar alegre
Me desfolhava risos
Ele tinha um nome
Que me fazia guardar silêncios
Que me perfumava a memória
Seu nome, no âmago terra, eu pus
E já não me lembro como ele se chamava
Nem em quantos florais seu nome ida hoje reverbera
Lembro-me dele como ponta de luz cristalina
Que faz furinho no lenço matinal
Ele era homem real sobre irrealidade
Sarça ardendo (sem se consumir) no fogo
Com-força, dia-a-dia, amiúde
Recordo uma coisa por ele dita,
Aliás coisa demais bendita:
"Vou subir bambu!"
E num dia-ido
Ele foi-se indo pelos astros
Sem que fosse percebido
Quando dei por falta
Já estava longe demais
Foi-se indo imerso em poesia
O menino subiu no bambu e abraçou o Sol
Deixando uma saudade difícil de dizer
E um amor mais torrencial
Que as muitas chuvas que choram comigo em janeiro
Menino-bambu, eu entendi tua vida
E tu me entendeste
E me fizeste amar
O risco das estrelas
Desculpa, amigo,
Eu sei que você não me ensinou
A contar saudade
(Belém/PA, 05.01.2010)
(Marcel Franco)
|