A Garganta da Serpente

Marcelo Moro

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Futuro do pretérito

Um amigo me disse, cego!
Não vês o corte da faca
Vês menos a fronteira da razão
Respondo, amigo
O que pingo nos olhos são gotas azuis
Um colírio além da imaginação
Uma tinta de tempero surreal

Se assim fosse, cego
O toque me bastaria
Quem toca igual perfume virtual
Perde-se
E de nada valeria manter-se são
Vê-se no espelho um igual
Porque se conhece

Gotas, tintas, perfumes
Nuances que descrevem
Quem sabe a cor do seu vestido
Escrevem Transmutações de sentidos
Me perco no que acho
Das ondulações dos seus cabelos
Filósofa da razão

Quem se importa
Se me chamam cego
Importa -me mais o que pensas
No meio da noite
Suposições e crenças
Deitada nua ao meu lado e sem desejo
Isso me faz de fato cego

Mas se apenas uma centelha
Uma que seja brilhe
Entre uma gota de vinho e outra
Entre uma gota que escorre
Marota por entre as curvas do decote
Olhar que se fixa e morre
Meus olhos se abrem, me torno vivo

Mas enquanto tudo é cinza
Sopro a brasa e espero
Faço de conta que acredito
Na voz côncava do amigo
Que me chama de cego
Mas me escondo no convexo
De ser um incorrigível.


(Marcelo Moro)


voltar última atualização: 25/07/2006
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