Luzerna
Ela queria um poema, que eu escrevesse
Um poema para ela, só dela, um poema,
Que eu não escrevi, - sobre o que eu deveria,
Ela não era um poema pronto, ou era? -.
Não era bela, era intensa,
Seus olhos brilhavam, luzerna.
Não fascinava, iluminava.
E bastava.
Mas ela queria um poema, pudera.
Eu sou um poeta, soubera,
Mas não dela, encasquetou.
E deu de perder nos olhos o gesto
Puro, intenso - tormento - trocou
Por um brilho de luz de cabaré.
Um poema de amor é só um poema
De amor, porém não fui perdoado, afinal
Não escrevi um poema de amor para ela
Que se pôs fitando a janela
A esconjurar o poeta que não fui
Desconhecendo o poeta que não sou
Incapaz de escrever um poema de amor,
De um amor que não cabe num poema.
(Marcelo B. Savioli)
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