SONÂMBULO
Ei de tornar patente os meus sonhos
deveras maligno nas vaidades
usual anarquista das palavras
pintor Freudiano entrajado
nas mãos em concha
cheias de ojeriza
qual rapariga traída
a dadivar o indulto, riso escasso
alavancando cristos, crenças
tecendo os cravos da cruz
marcando troncos, enveredados
movidos a pés meninos
tocando a matéria falsa por flácidas horas
Suicídio, riqueza, praga...
morfinesca máquina palmilhando
os cabelos negros da noite
Ah glória córrega em gastos dedos
crespas palavras d'um grito
a assombrar minhas pálpebras
feito fábula metafísica, coito sublime
abismo que não finda
fértil veio engenhoso, ampulheta ingrata
E enquanto vil me é a fuga
grafa-me em lento a libido, cadáver e receio
protagonizando o torpor
onde novas coxas e ventres
em meio ao pó da noite
pergunta teus segredos e te corrói o nada
(Márcio Coutinho)
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