PARA OUVIR
Se pudéssemos ouvir os sons de dentro de nós e nossa natureza
falasse e, de certa forma, crescemos que isso é a coisa mais linda que
existe em termos de som... um som puríssimo...
Nós podemos viabilizar, através de nós mesmos, violências
e paixões desenfreadas e canalizadas por todo o corpo extenso para o
mundo pequeno.
As vozes que se ouvem em noites de sono denso... vontade de ir-se embora da
densidade, sons de noite que não tem som nenhum e, por isso mesmo, as
discrepância de inconstantes sentimentos.
Ao ouvir crianças brincando nos parques e suas vozes delicadas e barulhentas,
amáveis e ensurdecedoras, confundem-se ao meio-dia com o ronco dos motores
automotivos e no deslizar da tarde em brandura,
harmonizam-se com pássaros jovens que exaltam o canto do sono denso para
a noite que vem.
Sons urbanos perfuram as mentes que trafegam na vaga inconsciência de
chegar a algum lugar, entre transeuntes taciturnos no momento de exaltação
e fulgor da lugubridade.
Sons que mexem e direcionam a instrumentação insistente das coisas,
coisas de amor, de dor, paixão e insanidade em contornos ascendentes.
Sons selvagens em forças violentas e quase invencíveis, e diría-se
que sua embriaguez realiza a onipresença de sua existência.
Soníferos sons... madrigais tranqüilos dançando no ar, deixando
alojar-se a densidade do sono bom que dormimos em liberdade sancionada para
todos.
E ao se cair na dispersão do som... momentos mágicos que ao fluir,
provoca intensidades conotativas dentro da arte boa de sentir o som de mil cores.
(NOV/94)
(Marco Antônio)
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