A TUA IMAGEM
Incrível era a bandeira que empunhavas com tanta veemência, cor
minha.
O cálice quebrado de minha ilusão propunha o sangue sedimentado
pela dor, onde o sorriso era intrínseco ao choro.
Não me disponho mais de tuas lembranças emblemadas de sofrimento.
Navego num barco que oscila, desfaz-me da solidão, guia-me entre as águas
com suas velas pandas pelas brisas sorridentes da minha imaginação.
Não esqueço tuas fontes, efemeridade eterna que me domina as entranhas
e me traz segmentos de tua presença. Por onde prosseguem as dissonâncias
dos momentos?
É uma força invertida que busca e rebusca o passado, num saudosismo
selvagem que dominava os sentimentos de um querer distante.
Não me abençoe, não me diga de meus sonhos porque eu não
quero sabê-los, que cheguem sozinhos, sentem ao meu lado e caminhem comigo
pela realidade das conquistas sonhadas. E se me lembrarem de você, eu
irei me esvaecer pelos tempos, dissipando-me no ar como um breve esquecimento
para me lembrar de você a um bangalô dentro do meu sentimento, de
minha raiva, de minha exatidão, de minha personalidade férrea
que quer esquecer de tudo.
Atraquei-me a um porto, louco de delírios, e expus-me a vulnerabilidade
de sua cor. Meu barco que me guia sem um norte que não seja o coração.
Estas são as minhas armas, que não venham me dizer nada, eu só
quero saber que não sei. Não quero aprender, quero usufruir o
conhecimento.
Minhas mãos de aço frágil tocaram em todas, sentiram todas,
mas não passaram ao coração o amor.
Não me perdoe, por mais que queira não me perdoe... Essa suposta
criatura de fantasias mil é a parte mais forte e dura, é a relação
entre a obscuridade presente e viva. Já sinto rumores dos teus passos,
já vislumbro um horizonte com teus traços ascendentes... a maravilha
infiel que trai a confiança.
Olho ao redor e não consigo ver nada que não seja tua cor e a
bandeira que ostentas com a força onipotente da tua vida.
Não consigo te fugir, não tenho forças para raciocinar...
estou aqui, em todo lugar, numa forma onipresente de tudo de mim... Proximidade
lenta que perdura, percorre e grita para ficar.
Estou aqui! Não me diga nada, não me perdoe... que eu fique cômico
e trágico, que não me conscientize, que me desvirtue, que possa
me enveredar por meus caminhos de todo mundo e veja sempre a tua bandeira ilusória
com meu coração tatuado numa cor que personifica tua imagem ao
meu peito.
(24/08/95)
(Marco Antônio)
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