A Garganta da Serpente

Marcos Luiz de Britto

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V.I.T.R.I.O.L..

Das profundezas sombrias da morada de Hadit,
Vem, Ó Daemon! Eu ordeno que despertes!
Que tua flama se manifeste aqui agora!
Desembainha tua espada e te firme em guarda,
Pois a trombeta soa no alto das torres,
e o cálice transborda o sangue novo.
Atividade em silêncio, êxtase criador.
Nada profere, tudo reclama!
A semente do Aeon!
Vem como Ninfa, imaculada donzela,
ou como 7.'., meretriz sagrada.
Vem, tu que habitas Dääth!
Tu que aspiras o último suspiro.
Terrível e temida unidade, deixais eu unir-me a Ti
Quando o último tijolo for destruído,
e não houver mais sombra alguma do que foi.

*

Sinto o frio dos mármores de Atenas
O cheiro dos afrescos de Luxor
Dentro de mim algo grita
Quer fugir, Experimentar
Quero muitas mulheres
Não sou de uma só
A vida em sua totalidade
Reerguendo colunas do pó
Pelas noites me perder
Lábios, lençóis, suor
A certeza no fim das contas
Dentre as coxas me aquecer

*

Noite negra
Luz de velas
Teu corpo suado
Por cima do meu
Como se não bastasse
Deusa do prazer
Me envolva em tuas delícias
Foste Sappho de Lesbos
Nua
Envolta de rubros véus

*

Sinto o cheiro do teu sexo
O que açoita meus sentidos
Também quebra a ampulheta
Sem o tempo a me reger
Já não me preocupo mais
Tem a pele, tem os pêlos
E os nossos lençóis curtidos

*
Decadência
Deslumbre insensato
Talvez inocência
Como o sol que queima a pele
e incendeia a alma
Diluindo o mel com o sabor do corpo
O corpo em chamas
Como que entre as vísceras dilaceradas
pelo frenético desejo incontrolável
Transmutasse a alma em luz


(Marcos Luiz de Britto)


voltar última atualização: 29/05/2007
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