A Garganta da Serpente

Maria Hilda de J. Alão

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

UM POEMA DE OUTONO

Mergulham no cinza os dias,
O mundo está descontente,
O sol se esconde de repente,
Foi-se o verão de alegrias.

Lá fora, o frio vento sibila.
A noite tem o véu da neblina
Amanhece e começa a rotina
Da gente que não vacila

Diante de intempéries loucas.
Encasacada vai cumprir a sina,
Debaixo de chuva úmida e fina
Das obrigações que não são poucas.

Bem-te-vi que a cantar vivia,
Banhando-se na água da nascente,
Esconde-se da chuva intermitente,
Lágrimas que o céu escondia.

Despem-se, lentas, as árvores belas,
Suas vestimentas mais antigas,
Espalham suas folhas amigas
Que se vão ao sabor das procelas.

Quem se abrigava à sombra delas
Para aliviar o calor, as fadigas,
Vê seus braços nus sem as cantigas
Dos bem-te-vis tagarelas.

Mas, o outono tem seu encanto,
É tempo de sopa quente, de carinho,
É estação que encurta o caminho
Da volta ao lar que se ama tanto.

(Maria Hilda de J. Alão)



voltar última atualização: 24/11/2007
10035 visitas desde 03/05/2007
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente