A Garganta da Serpente

Maria Hilda de J. Alão

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

DEIXA-ME NO TEU VENTRE

Deixa-me, no teu ventre, eu ficar,
Neste ninho de amor tão quentinho.
Lá fora tudo é frio e cinzento,
Há tantos tropeços no caminho
Da vida a ser vivida.

Deixa-me ficar no teu ventre
Macio; eu não vou incomodar.
O futuro eu o sinto desastroso
Se daqui eu me retirar.

Não quero que sofras por mim.
Sei que sonhas muito alto,
Mas o mundo é tão violento
E ninguém sabe o seu fim.

Aqui é minha casa, minha rua...
Solidão aqui não existe.
Com teus olhos eu vejo a lua,
Os pássaros, as flores e o mar.

Perdoa-me pelo ventre volumoso,
Pelo inchaço das pernas,
Mas meu amor se torna poderoso
Ao sentir tuas carícias através dele.

Já sei rezar a Ave-Maria!
Aprendi com o passar dos dias
Ouvindo, às dezoito horas, o teu pedido:
- guarda esta criança dos perigos

Em que vivemos, senhora!
Dai-lhe a graça de perfeita nascer
Abençoando-a nesta hora,
Livrando-a de todo o sofrer.

É por isso que eu te peço mãe:
- deixa-me aqui em segurança
Porque criança não tem esperança
Neste país que vou nascer.

(31/07/06)

(Maria Hilda de J. Alão)



voltar última atualização: 24/11/2007
10034 visitas desde 03/05/2007
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente