A Garganta da Serpente

Maria Kardash

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DE MÃOS DADAS

Deixe-me segurar suas mãos com cuidado entre as minhas,
te olhar e realmente te ver.
Juro que não lembrarei a cor de suas roupas, de sua pele, verei apenas o que os homens cegos não vêem: sua alma que é apenas luz, sua luz, você.
Deixe-me contar de mim,
falar sobre pensamentos estranhos, sobre devaneios.
Existir é tão complexo.
Existir se baseia numa fórmula matemática infinita da qual não se sabe o resultado.
Minha luz sempre existe, mas meu corpo só existe se respiro...
Ás vezes quero ser um bebê puro, que respira,
que vê, que toca, que sente, que existe pela primeira vez.
Outras vezes quero ser um ruído distante, plácido,
afastado da existência humana, das responsabilidades, dessa nossa saga infinita
em busca do porquê da vida.
E ainda outras vezes, quero ser, quiçá, uma flor que repousa sob o sol, contra o vento
e vive uma existência estática mas que, contudo, as pessoas podem transformá-la num gesto de carinho.
Quero ser o menino que espia pela fechadura,
Quero ser a lágrima que rola sem nada sentir,
Quero ser as ondas que eternamente vêm e vão,
Quero ser a primeira palavra de uma criança,
Quero ser a nuvem, lenta, pesada no céu, assumindo infinitas formas.
Sinto sua mão trêmula...
Não há razão para tremer! Existir é isso.
Não tenha medo de ter medo, não tenha vergonha de chorar, pois eu também sou você.
Sou você porque seu toque suave em meus cabelos se transfere logo
para meu coração e quando seu rosto se contrai de raiva, eu sangro...
Por isso estamos de mãos dadas.
Não existem patrões e empregados.
Não existe superioridade.
Não existe igualdade.
Existe toda uma humanidade que coexiste.
Aperta minha mão, me acompanha.
Não vamos seguir os caminhos prontos.
Vamos fazer nossos caminhos.
E para me ensinar a te amar?
Basta um sorriso teu.


(Maria Kardash)


voltar última atualização: 31/03/2009
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