A Garganta da Serpente

Mariano da Rosa

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Algo Assim

I PARTE: "NÃO"

Não! Não te quero como uma nuvem sem-forma,
Que não tem rosto, lábios, voz ou coração...
Que, de tão inodora ou incolor, repugna,
Por ser menos terrena - mais celestial!

Nem como uma flor de exotismo extraterrestre
- De exangue, eucêntrica e autocrática beleza,
Que, de tão transcendente, desnaturaliza-se,
Sendo mais metafísico o prazer (botânico?)!

Nem como um rio que de si nunca deságua,
Que não transborda jamais... Nem mesmo tem fim...
Que, enquanto escoa, todo alienado esvai-se
Pelo rumo de um atemporal "sempre-cósmico"!

Nem como a mítica personagem da ninfa
Que me faz mais fictício - enfim, menos humano:
Sem sensório ou tórax ou entranhas sexuais...
Embora "sem-visão", tornando-me só "olhos"!


II PARTE: "PORÉM"

Quero-te, porém, inescapável aos nervos,
Sem tornar-se um sagrado objeto de culto
Que reclame uma neurótica devoção,
Em nome de uma paixão - um amor-fetiche!

E, ainda, instintivamente bárbaro, enquanto...
Embora vulnerável aos sentidos físicos!...
Humana, desde a consciência psico-orgânica
Que consagra a mulher como fêmea do homem!

Porém, imprevisível ao cérebro quero-te
- inconteste e súbita, tanto quanto (...), quando
Possessiva, tal qual uma gota de ácido,
Uma bebida etílica, um alucinógeno!!!

E, ainda, como um desafio entre os extremos
Quero-te - entre o absolutista medo e o desejo
De tornar-nos: Eu, menos do que um senhor (teu);
Tu, mais do que refém - e nós dois, ambos, cúmplices!!!


(Mariano da Rosa)


voltar última atualização: 06/04/2009
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