A Garganta da Serpente
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A Vida das Criancinhas
E os
BANDOLEIROS FASCISTAS

Quem pudera ter de novo
Aquilo que nunca tive
Esse sorriso que louvo
E que tão cedo perdi
Quase dele não me lembro
Senão como sonho terno
Que escrevo com tanto assombro
Entre as folhas dum caderno.

Mas este caderno de hoje
É meu caderno de outrora
Quando a escola era o modelo
Do saber e do futuro
Que nunca chegou a ser
Por tão cedo mo roubarem
Bandoleiros sem vergonha
Que meu ninho arremessaram
À miséria e à peçonha.

Sabem o que é ser menina
Ter lar, família e amigos
Recantos em casa, livros
Essa fonte de magia
Onde tudo acontecia?

Quando deixei minha casa
Pensava poder voltar
Mas arrancaram-me a asa
Nunca mais soube voar.

Perdi-me de minha casa
De meu lar e dos meus livros
A força da minha asa
O vigor que afasta perigos

A que fui, tão menininha
Não teve direito a ser
Perdi essa escrivaninha
Onde eu aprendera a ler
Onde estudava as lições
Do futuro do meu dia
E ao perder a escrivaninha
De mim mesma me perdia.

Afastei-me do caminho
Onde a vida decorria
Oiço por vezes baixinho
Como velha melodia
Uma história inacabada
Que nunca chegou a ser
E eu perdida na estrada
Não mais a consigo ver


(Marilia Gonçalves)


voltar última atualização: 19/05/2017
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