Outono
Outono!
Qualquer coisa lilás,
Schumann em violino,
Ângelus tangido em lentidões de sino,
Preguiçoso torpor de um fim de sono,
Espelho de água quieta dos canais!
Cá dentro,
A idade,
Restos de sonho e de mocidade;
Trechos dispersos
De velhas ambições falhas na vida,
Parcelas
De antigas ilusões que ainda, a custo, concentro
E invoco até agora!
Lá fora
A descida,
O crespúsculo inócuo destes dias,
A tristeza das folhas amarelas,
E a cantar sobre estas ruínas frias
A monótona toada de meus versos.
Desces,
Poeta!
A descida é suave,
Não te demanda rigidez de músculos
E nem exige que teu passo apresses...
A natureza é quieta,
Da ingênua quietação de um sonho de ave,
E há paina nos crepúsculos...
No Outono a luz é um eterno poente,
Que mais à calma que ao rumor se ajeita;
Brilha,
Tão de manso e calma,
Que até parece unicamente feita
Para o estado d'Alma
De um convalescente.
(Mário Pederneiras)
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