Cigarras
Cigarra!
Como tu davas para moça rica!
Amas o luxo. E a vida que tu amas,
É a vida feliz de púrpuras e chamas
D'aureos poentes...
Para viver do que precisas
É da fartura e do vigor do Estio.
Não te dás bem no frio,
Todo feito de cores indecisas,
E longas calmas de convalescentes.
Amas o Sol porque ele tira à vida
Toda idéia de mágoas e miséria,
Toda a impressão de lutas e de lida
E só convida ao bem-estar e à farra...
Cigarra!
Nunca hás de ser uma senhora séria!
No entanto,
Na uniformidade
Desse igual e eterno
Aspecto que se enlaça
De estação a estação, no centro da Cidade,
Sem a nota, sequer de um motivo sombrio,
Se não fosse o teu canto,
Que é a tua desgraça
Ninguém sabia quando chega o Inverno,
Ninguém ouvia quando passa o Estio
(...)
Amas o Sol porque ele tira à Vida
Toda idéia de mágoa e de miséria,
Toda impressão de lutas e de lida
E só convida ao bem-estar e à farra...
Cigarra!
Nunca hás de ser uma senhora séria!
(Mário Pederneiras)
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