A Garganta da Serpente

Mário Pederneiras

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Crepúsculo

Eu sempre fui amigo dos estios,
Dos longos dias claros e sadios,
Da Cigarra, do Sol, que a vida encerra,
Que alegra a luz e que fecunda a Terra.

Mas estou hoje num estado d'Alma,
Tão de indolência e calma
E tão avesso às emoções bizarras,
Que não quero saber de sol nem de cigarras...

Nada de força, de vigor, de músculos,
De desejos agudos,
Nem dos desatinos
A que, às vezes, me atiro,
De alguma estranha fantasia nova;
Hoje de alegrias e vigores domo
E prefiro
À meia-tinta morna dos Crepúsculos,
Num macio carinho de veludos,
A plangência católica dos sinos,
Num fim de tarde, quando a luz repousa,
Ou então, qualquer coisa
Como
N'alma de um violoncelo a surdina da trova.

Olho este fim de tarde e esta sombra que desce
E em tudo alonga e tece
A trama tênue de seu véu de luto...
A alma sentindo evocativa e boa,
Emocionado, escuto
O saudoso rumor do dia que se extingue
E o dia azul que foi, apenas se distingue,
Por um resto de luz que nas alturas sobra,
Por um sino que dobra
Ou uma asa que voa.


(Mário Pederneiras)


voltar última atualização: 03/04/2005
8918 visitas desde 01/07/2005

Poemas deste autor:

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente