Vida Simples
(A Gonzaga Duque)
Vão-se as brumas do Sul...
Agora é o tempo das manhãs bizarras,
De muito Sol, de muito azul,
E do estrídulo canto das cigarras.
É o tempo do Sol que tudo anima,
Dessas largas manhãs claras e enxutas
E ainda por cima,
Das flores e das frutas.
Das longas noites que o luar acolhe,
Tão serenas, tão calmas, que parece
Que a alma do mundo inteira se recolhe
À bondade católica da Prece.
Com este Céu assim, dourado e fino,
E estas fecundas madrugadas louras,
Eu imagino
A alegria que vai pelas Lavouras.
Ah! quem me dera
Deixar o rumo da Cidade,
E sob a paz de lindos Céus escampos
Passar a vida na serenidade
Desta Primavera,
Na largueza bucólica dos campos.
Longe das longas, intrincadas teias
Da agitação que tanto abala e cansa
A Vida industrial de um grande Centro.
Deixa correr uma existência mansa,
Tão mansa, como se corresse dentro
Do próprio campanário das aldeias.
(Mário Pederneiras)
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