A Garganta da Serpente

Mario Semacento

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

poeminha das inutilidades

a poesia, muito longe de ser fútil
- é essencial -
e, saborosamente inútil.

o horizonte sorri auroras boreais:
são vazios matizes,
são tons cabais.

palavras engravidam corações:
são poemas vivos,
são pulsantes ilusões.

a boca chove silêncios molhados,
silêncios contam segredos:
- a chuva é um deus fragmentado.

sintamos inúteis aromas profundos;
amor, café, manhã, paz, terra, flor,
contradizem o moderno mundo .

as canções estão gratuitas por aí,
são bem-te-vis, olhares e montanhas
- servem apenas para fruir.

na esquina das estrofes distantes,
há vastos versos tortos,
há estrelas desconcertantes.

a noite pari a lua no ventre do céu,
o rotundo sol declama boa noite!
...e vai pro beleléu.

desistam, poetar não é profissão,
pois o capitalismo inspira lucro,
rimas não não não...

o inútil, longe de ser banal,
é uma fábrica de prazer,
para que escrever, afinal?

para falar francamente, inútil é explicar,
celebremos a arte da alegria,
gozemos sem pestanejar.

querem mais inutilidade que a vida:
- de onde venho, para onde vou?
ah! quanta pergunta sem saída...


(Mario Semacento)


voltar última atualização: 07/08/2007
6815 visitas desde 01/07/2005

Poemas deste autor:

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente