poeminha das inutilidades
a poesia, muito longe de ser fútil
- é essencial -
e, saborosamente inútil.
o horizonte sorri auroras boreais:
são vazios matizes,
são tons cabais.
palavras engravidam corações:
são poemas vivos,
são pulsantes ilusões.
a boca chove silêncios molhados,
silêncios contam segredos:
- a chuva é um deus fragmentado.
sintamos inúteis aromas profundos;
amor, café, manhã, paz, terra, flor,
contradizem o moderno mundo .
as canções estão gratuitas por aí,
são bem-te-vis, olhares e montanhas
- servem apenas para fruir.
na esquina das estrofes distantes,
há vastos versos tortos,
há estrelas desconcertantes.
a noite pari a lua no ventre do céu,
o rotundo sol declama boa noite!
...e vai pro beleléu.
desistam, poetar não é profissão,
pois o capitalismo inspira lucro,
rimas não não não...
o inútil, longe de ser banal,
é uma fábrica de prazer,
para que escrever, afinal?
para falar francamente, inútil é explicar,
celebremos a arte da alegria,
gozemos sem pestanejar.
querem mais inutilidade que a vida:
- de onde venho, para onde vou?
ah! quanta pergunta sem saída...
(Mario Semacento)
|