A Garganta da Serpente

Maristel Dias dos Santos

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Garoto

Tira o dedo do nariz!
Pára já com essa bola!
Veja! Veja! Por um triz,
No meu vaso põe a sola.
Cala a boca! Vem aqui!
Deixa fechada a porta!
Já pro banho! Sai daqui!
Olha, vê se te comportas!
Vem comer, limpar o prato!
Não vai comer, não é hora!
Não puxe o rabo do gato!
Bota o cachorro pra fora!
Vai já fazer a lição!
Joga o lixo! Corta a grama!
Menino sem coração...
Já pra cama, já pra cama!
'Tá na idade de casar.
Pega a moça, vai à igreja.
É preciso trabalhar...
Pega a moça, pega e beija.
...E enterra o teu coração...
Tem de ter casa e calçado.
Tenhas nunca outra paixão!
O adultério é pecado.
Precisa de um carro novo
E dinheiro pro colégio.
Não vá nas manhas do povo.
Não discuta o poder régio!
Cumpre bem teus compromissos.
Bom cidadão não atrasa!
Cuida da filha em seu viço.
Mulher é dentro de casa!
Faz da vida um monumento.
Do teu filho, um doutor.
Paga quatro casamentos.
Dá teu sangue, teu suor.
Não reclames da velhice!
Deve ser grato a teus filhos.
Pára com essa rabugice!
Dá às aves todo o milho.
Hás de morrer sem um erro
E enquanto cuida de si!
Por precaução, paga o enterro,
E a terra que o vai cobrir.
E, agora, ser humano,
Prova que és racional:
Despoja de todo o pano,
Faz o que quer, afinal!


(Maristel Dias dos Santos)


voltar última atualização: 08/02/2011
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