A criança
Quanta lembrança esta criança me traz.
As madrugadas frias, o choro e a tristeza.
A dor, o amor, a fome e a doença.
Meus braços eram fortes como o cedro.
Meus dias eram cheios de esperança.
Ela era sensível como flocos de algodão.
O homem que leu, pesquisou, não me enganou.
Naquele dia cinzento ele cravou-me uma flecha.
Nada de enganos, a vida se foi.
Ela terá dias contados como no calendário.
Eu não desisti, sabia que o anjo viria avisar-me
No aconchego de um lar desesperado,
a inquietude e as lágrimas pelos cantos mostraram a dor.
Era a dor de perda, era a dor de todos enganos.
Vivi, sobrevivi até hoje, mas o anjo não veio.
Hoje estou inerte, fria, com desenganos tão cruéis.
(08/01/01)
(Marly de Castro Neves)
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