queria ser só
o que de vento se veste:
poeira, grão, semente, algodão.
queria ser só
o que flutua:
pena, flauta, balão.
no dia ser borboleta,
na noite ser mariposa,
só delicadeza eu seria:
vaga-lume, orvalho, seixo, lágrima, canção.
mas também sou tudo
que padece:
pedra, amargura, solidão.
mas também sou tudo
que afunda:
pedra, cadáver, escuridão.
(Martha Galrão)
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