A SOMBRA DA MIRAGEM
Sou uma sombra de um "eu" de ficção,
entre as sombras do mundo projetada,
que até nos sonhos tem a sensação,
duma suposta razão compartilhada.
Preso aos limites de tal percepção,
sofro a angústia de ser e não ser nada,
porque me movo na mesma dimensão,
aonde a morte no tempo é consumada.
Apenas sou, nessa terra, uma miragem,
transfigurada num certo personagem,
que se afasta de si, tal como um rio.
Quando atrás da retina me aprofundo,
esvai-se a ilusão por um segundo,
e não há mundo nem "eu", só o vazio...
(Martinho Ferreira de Lima)
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