CREPÚSCULO
Ao desmaiar de um sol aurifulgente
um corpo exânime também vê o fim.
Minh'alma triste se funde ao poente
e cai as trevas na tarde, e sobre mim.
Num conúbio invulgar e abducente,
saltamos juntos em um trampolim,
pra lá do mundo, banal, cognoscente,
tornando infinito esse Ínterim.
Profundamente imersos no não ser,
eu sou a tarde que finda, a esmaecer,
enquanto a tarde a fenecer sou eu.
E nesse eterno enlevo de um instante,
fomos, a tarde e eu, tão semelhantes,
que minha alma também anoiteceu.
(Martinho Ferreira de Lima)
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